Jaime Bagattoli, senador pelo PL de Rondônia, tem se destacado como uma figura que personifica a contradição política no Brasil
Porto Velho, RO - Em sua participação no programa Papo de Redação, transmitido pela rádio Parecis FM, o parlamentar fez duras críticas a diversas instituições do país, incluindo o Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Supremo Tribunal Federal (STF) e até as Casas Legislativas.
Bagattoli qualificou os gastos públicos como "vergonhosos" e defendeu uma reforma administrativa profunda. No entanto, em suas declarações, ele não incluiu as despesas relacionadas ao Senado Federal, nem os privilégios que ele mesmo desfruta como parlamentar, o que levanta questionamentos sobre sua postura crítica.
O senador foi enfático em relação aos gastos das câmaras de vereadores, assembleias legislativas, Câmara Federal e Senado, chamando-os de excessivos e inaceitáveis. Porém, ao fazer esse discurso, ele omitiu qualquer menção ao próprio salário, que ultrapassa os R$ 33 mil mensais, além de benefícios como auxílio-moradia, verba de gabinete e uma vasta estrutura administrativa bancada pelos contribuintes. Essa falta de autocrítica expõe uma incoerência nas suas palavras, dando a impressão de que ele se coloca fora do sistema que tanto critica, como se fosse um espectador da "gastança" que ele condena.
"Senador de Rondônia que admitiu fraqueza após ""rasteira"" de Marcos Rogério agora ataca STF, OAB, MP, Câmaras e ALE"
Outro ponto controverso foi sua crítica ao Ministério Público e à OAB, acusando essas instituições de omissão diante dos acontecimentos de 8 de janeiro, quando ocorreu o ataque às sedes dos Três Poderes. Bagattoli afirmou que não sabia onde estava a OAB e que o Ministério Público deveria fazer mais, mas suas palavras não foram acompanhadas de ações práticas ou propostas concretas para resolver as questões que ele aponta.
A postura do senador também se revela contraditória quando se observa sua reação ao perder a presidência do diretório estadual do PL para Marcos Rogério. Em vez de desafiar a decisão, respaldada pelo presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, Bagattoli admitiu sua falta de força para reagir à situação, dizendo que não tinha poder para enfrentar a situação. Essa atitude de submissão ao autoritarismo de sua própria legenda contrasta com o tom combativo que adota ao criticar outras instituições e atores políticos.
Ainda mais contraditório é seu discurso em defesa dos envolvidos nos atos de vandalismo de 8 de janeiro. Para Bagattoli, as pessoas presas naquele dia não seriam terroristas, uma vez que, segundo ele, não estavam armadas. Essa visão relativiza a gravidade dos ataques, que envolvem depredação de patrimônio público e tentativa de subverter o processo democrático, algo que contraria a gravidade dos eventos e os riscos que representam à estabilidade do país.
Bagattoli também tem se mostrado um firme defensor de Jair Bolsonaro, mesmo após o ex-presidente se tornar inelegível até 2030 devido a uma série de questões legais. O apoio de Bagattoli ao bolsonarismo continua, apesar das tensões políticas e jurídicas que o cercam, incluindo investigações graves e o indiciamento de Bolsonaro pela Polícia Federal, relacionado a um plano de assassinato de figuras do governo.
Embora critique abertamente os gastos públicos, Bagattoli não sugere medidas para cortar privilégios ou reduzir a estrutura dispendiosa do Senado, um dos principais órgãos que ele integra. Ele não propôs a revisão dos altos custos relacionados aos gabinetes ou a redução de auxílios parlamentares, deixando claro que, ao menos publicamente, não está disposto a incluir o Senado nas reformas que defende.
Essa postura é uma estratégia deliberada, que permite ao senador continuar suas críticas às instituições, enquanto evita examinar seu próprio papel no sistema que tanto critica. Essa omissão sobre os custos de seu próprio mandato não só revela incoerência, mas também serve para blindá-lo das críticas. A reforma administrativa que Bagattoli defende deveria começar, por exemplo, pelos privilégios que ele mesmo desfruta no Senado, um dos poderes mais caros do país.
"A conduta de Bagattoli, ao atacar instituições sem admitir as responsabilidades do Legislativo, enfraquece o debate democrático. Em vez de contribuir para a construção de um Brasil mais justo e eficiente, sua retórica se limita a um discurso vazio, que apenas alimenta a polarização política.
Se Jaime Bagattoli deseja realmente ser um agente de mudança, ele precisa começar por dar exemplo dentro do próprio Congresso. Isso envolve a redução de gastos, a eliminação de privilégios, a adoção de uma postura mais responsável e a defesa das instituições democráticas, em vez de fazer promessas vazias e críticas que não se traduzem em ação. O Brasil precisa de líderes que falem com coerência e ajam com responsabilidade, não apenas de políticos que exploram as falácias do discurso.
Se Bagattoli pretende ser lembrado como um verdadeiro defensor do povo e das reformas necessárias, ele terá que superar a retórica e se comprometer com ações concretas. Até lá, sua postura de criticar sem propor mudanças efetivas continuará sendo apenas mais um exemplo de discursos vazios no cenário político.
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